1 - Crise
Estamos em crise. Diz-se e ouvimos dizer que crise significa necessidade de mudar e que estamos todos no mesmo barco.
Se estamos onde chegamos, e não é aqui que gostaríamos de estar, foi por uma de duas causas: ou remamos pouco ou seguimos um rumo errado. Qualquer destes motivos, ou os dois em simultâneo, têm origem identificada: o comando do leme. Se remamos pouco é porque o rumo não foi nítido, se remamos muito e estamos mal é porque o rumo foi errado.
Não sairemos daqui, por melhor caminho, em busca de melhor lugar sem adopção de novas referências e maiores exigências. De pouco servirá a cada um de nós, remadores, remar ainda mais se o comando do leme não for lúcido, atento e firme na fixação do rumo a seguir.
2 - Escola fechada
Curvo-me perante a justificação do Ministério da Educação para o fecho das escolas com poucos alunos. É prioridade em democracia (que o deseje ser) assegurar a todas as crianças, em tão decisiva fase de aprendizagem e crescimento, as mesmas e as melhores condições na escola.
É, sem dúvida, à escola e aos seus professores que deveremos a qualidade e o futuro da democracia e o sucesso do país. A escola que queremos e reclamamos não tolera a discriminação, não tolera injustiças e não cede a facilidades.
A grandeza da motivação apresentada para tal plano não pode servir para esconder outras. Só em nome de um valor maior se aceita tão grande derrota na luta contra a desertificação do território.
Não vais ser fácil aplicar esse plano, ao serviço do seu grande desígnio, a todo o território nacional. A igualdade de condições não passa apenas pela frequência da mesma escola. Para crianças nesta idade, haverá igualdade de condições entre aquelas que residem no lugar da escola e as que estão obrigadas a percorrer dezenas de quilómetros para lá chegar e de lá regressar todos os dias? É indiferente passar horas no interior de um autocarro ou passar esse tempo em casa, a estudar, descansar, ou a conviver com os pais e demais família?
Para ser bom, o plano das escolas fechadas vai ter que demonstrar uma enorme capacidade de compreensão dos territórios. Provavelmente, a sua maior virtude não advirá da regra geral a aplicar mas sim das excepções.
Não se pode negar às crianças, tão cedo arrancadas das suas terras, a possibilidade, quando homens, de poderem sentir ou dizer: «o que sou nasceu nestes campos».
Adelino José Rosa Rodrigues