Não somos nem seremos uma cidade grande mas podemos e devemos ser uma boa cidade. Temos tudo e apenas depende de nós fabricar uma cidade AQA (de alta qualidade ambiental). Uma cidade grande tem aeroporto e ópera mas é dominada pelo tráfego de transporte e infra-estruturas, cuja intensidade, densidade e diversidade, exigências e intransigências na conquista e domínio do seu território, retiram à cidade qualidade ambiental e poder de afirmação como lugar de inclusão. Em suma, como lugar de excelência da democracia.
As cidades como a nossa, não podendo alcançar todas as virtudes de uma cidade grande, podem evitar os seus problemas resultantes de formas urbanas ambientalmente incorrectas para a coesão, sustentabilidade e qualidade das suas respostas. Para tal basta deixar de aplicar modelos e dogmas urbanísticos do século passado que, ditados pelo primado da lógica do automóvel, têm produzido uma cidade de estradas e auto-estradas, que separam e distanciam, em vez de uma cidade de ruas e avenidas, que ligam e aproximam.
Partindo da realidade da nossa escala e densidade urbana, devemos basear o desenvolvimento estratégico da nossa cidade em novos princípios, apoiados nas tecnologias limpas e em bens ecológicos. Fomentar o aparecimento de empresas especializadas nessas tecnologias, capazes de atrair as camadas médias jovens e qualificadas, que transformem a cidade de Macedo num lugar de aplicação do neo-urbanismo.
Fabricar uma boa cidade em contexto de crise obriga ao desenvolvimento de novos e criativos compromissos urbanos. O novo urbanismo apoia-se em lógicas técnico-económicas privadas, totalmente diferentes da cultura e modo de fazer público. Substitui o conflito pelo compromisso através de novas formas de concepção e de realização, envolvendo a consulta e a associação dos habitantes e usuários a montante e a jusante da tomada de decisão. O novo urbanismo é reactivo, flexível e sintonizado com as dinâmicas da comunidade. É estilisticamente aberto e emancipado em relação a regras estáticas e anacrónicas, dando lugar a escolhas formais e estéticas qualificadas. É um urbanismo multisensorial que enriquece e qualifica a urbanidade dos lugares e procura soluções que satisfaçam, equitativamente, a vontade da maioria dos cidadãos.
O urbanismo que se esboça para o futuro é portador de novos princípios e novos compromissos e de uma atitude ambiciosa, exigindo mais vontade, mais pesquisa, mais saber, mais experiência e mais democracia. Apesar da dimensão e complexidade da tarefa de desenvolvimento de um urbanismo de compromissos, o assumir de novos princípios e a conquista de grandes objectivos pode iniciar-se de imediato pela prática de pequenos passos. Tão pequenos como os dois seguintes:
1- Conceder à árvore, se não mais, pelo menos tanta atenção como ao automóvel. Admito mais porque, independentemente das respectivas funções e importância no meio urbano, uma árvore é um indivíduo (vegetal) vivo. Esta condição impede-nos de arrumar qualquer árvore em qualquer lugar e de qualquer forma;
2- Substituir, sempre que a dimensão o possibilite, as áreas de relvado por áreas arborizadas. De manutenção fácil e sustentável, são grandes os benefícios da árvore para a qualidade ambiental da cidade. São escassos os benefícios das áreas relvadas para essa qualidade e insustentáveis os seus custos, face ao intolerável consumo de água e exigências de manutenção. Um relvado não dá sombra e é pobre em biodiversidade, atraindo pouco mais do que os cães.
A presença maciça de automóveis, a emissão da radiação solar absorvida pelos fachadas e coberturas dos edifícios e pavimentos impermeáveis do solo, transformam a cidade numa ilha de calor cujos efeitos desconfortáveis se sentem com evidência em Verões como o que estamos a viver. As árvores constituem-se como o regulador climático natural do ambiente urbano, melhorando a qualidade do ar.
O homem necessita da presença da árvore. As árvores exprimem o ritmo do tempo e o normal fluir das estações do ano. São símbolos de vida e de resistência, sinalizam lugares, têm beleza e contribuem para o ordenamento da cidade. A sua importância e os seus benefícios impõem o seu bom uso e tratamento. A árvore como ser vivo é um indivíduo (vegetal) tem uma forma e imagem própria dada pela natureza da sua espécie, que devemos querer intacta, inteira, não mutilada, não desfigurada, não doente. Das árvores esperamos um ambiente urbano mais saudável, mas esse ambiente não poderá provir de árvores doentes por inadaptação e podas mutiladoras.
Estamos obrigados a plantar árvores adaptadas ao lugar e ao meio. Não podemos equivocar-nos nas opções e pretender que uma árvore se transforme num arbusto e vice-versa, desvirtuando a sua natureza através da acção mutiladora do mau podador. Como não podemos equivocar-nos misturando relvados de regadio com a nossa oliveira tradicional, rainha da cultura de sequeiro.
Uma árvore bem podada é uma árvore limpa dos ramos secos. A conformação da árvore dispensa a ajuda do homem, a sua forma natural é perfeita.
Adelino José Rosa Rodrigues