O funcionamento de Macedo como centro urbano sempre dependeu da dinâmica das suas aldeias. As nossas aldeias estavam para Macedo como as cinturas industriais estavam para as grandes cidades. As aldeias produziam os bens que Macedo consumia ou vendia para fora e dava em troca os bens que as aldeias não tinham: saúde, justiça, ensino, burocracia, bens manufacturados e fotógrafo. A nossa cidade sempre foi o nosso Concelho. Esta lógica orgânica foi o motor que nos conduziu, em trajectória ascendente, até aos anos oitenta do século passado. O desmantelamento do caminho-de-ferro e o colapso da actividade agrícola parou o nosso motor económico.
Perante a realidade cadastral que temos e a relação cultural com ela, nem o esperançoso plano de aproveitamento hidro-agrícola da Albufeira do Azibo impediu ou adiou os danos fatais na nossa agricultura, causados pelo tsunami dos mega produtores, net-economia e políticas errantes para o sector. O encerramento do caminho-de-ferro resultou de um acto de vandalismo, impune apesar de autor conhecido.
A ansiedade, colectivamente sentida, pela ausência de motor económico em funcionamento, capaz de nos transportar em trajectória sustentada de desenvolvimento, gera excesso de expectativas em tudo o mexe, ou pareça mexer, e venha de fora. Tal excesso, quase sempre infundado, de expectativas impede-nos e inibe-nos de ver a necessidade de articular forças e de participar. Como não há euro-milhões colectivo que nos possa bafejar, nem dispomos, por enquanto, das condições capazes de atrair um mega investimento voltado parao futuro, capaz, por si só, de activar um novo motor económico, estamos obrigados a avançar para a sua construção organizando-nos de forma capaz de o projectar e por em andamento. A nova solidariedade de interesses obriga a todos. Ninguém pode dizer que não quer saber destas coisas porque estas coisas querem saber de nós.
Um certo modo de estar sebastianista instalado e o desespero que nos leva a acreditar em iniciativas isoladas, tem levado à perda e ao desgaste prematuro de acções relevantes cujo potencial dependia da integração num novo ecossistema de interesses. No passado mais orgânico, areolar e racional; no presente e no futuro, face às TIC (tecnologias de informação e comunicação) e dominante cognitiva na nova economia, mais comutativo, reticular e reflexivo, que possa responder aos paradigmas da dinâmica do desenvolvimento actual: complexidade e incerteza.
Deixar de produzir e consumir os bens produzidos, a multiplicidade de opções de escolha, as possibilidades de acção e interacção à distância espacial e temporal, enfraquecem o sentido de pertença a uma comunidade local. Macedo deixou de ser o lugar obrigatório para a maior parte das nossas práticas sociais. A internet, os centros comerciais das grandes cidades mais próximas e os mega produtores, detentores de gigantescas bases de dados onde nos conhecem, colam-se a nós, satisfazendo o maior número das nossas necessidades e acções.
O doudejante momento que colectivamente vivemos é resultante da pancada sofrida com a paragem do nosso motor económico e o enfraquecimento do modo de funcionar em processo de difusão limitada ao espaço do Concelho. É também porque ainda não nos sentimos integrados numa nova rede de interdependências e numa consciência de pertença a novos sistemas de interesse colectivo. Ou seja, porque não dispomos de um novo motor económico que nos transporte para o futuro e justifique a vontade de querer ser desta cidade e nesta cidade querer viver e prosperar.
Construir o motor que nos faz falta e ainda não foi feito é o mesmo que dizer: fabricar uma cidade-concelho atractiva.
Como se faz? Estamos obrigados a fazê-la.
Quem? Todos.
Quando? Amanhã pode ser tarde demais.
Adelino José Rosa Rodrigues