À beleza natural dos montes e vales, que nos foram dados, sempre soubemos corresponder com o dever de acrescentar mais beleza: o mosaico cultural, caminhos, pontes, muros e aldeias. Belezas que espelham a força da nossa identidade colectiva.
Se à localização e planta das nossas aldeias todos reconhecem sábias práticas de planeamento e ordenamento, a nossa arquitectura tradicional encanta, espanta e surpreende. Rica pela pobreza dos materiais que utiliza, postos, dispostos e expostos com mestria artisticidade e arrojo, sempre soube criar nobreza sem riqueza e nela reconhecemos a nossa consciência colectiva.
A beleza dos conjuntos, a presença de cada elemento é resultado da sua autenticidade funcional, da sua verdade construtiva e da forte vontade de significar valores éticos, regras, princípios e desejos. Desejos de liberdade, de harmonia social, de comunhão com o ambiente natural, de sustentação e identidade comunitária.
A herança patrimonial identifica-nos, preserva-nos a memória colectiva e representa os valores que nos caracterizam e distinguem como comunidade. Dos nossos avós não herdamos apenas conjuntos e edificações e a morfo-tipologia única das nossas aldeias, herdamos regras, significados e anseios. Herdamos carácter.
A arquitectura que herdamos é assim bela porque, para além da sua verdade prática e útil, representa-nos como comunidade de valores, motiva-nos e enobrece-nos. Assim, sempre que um valor do conjunto desta herança é destruído, sem causa, perde-se parte da nossa riqueza comum. O que fomos, o que somos e o que seremos depende da sábia defesa dos valores da nossa identidade. Há, com certeza, muito futuro com a boa defesa do nosso passado.
Adelino José Rosa Rodrigues, Arq.