Desde 1993, ano de entrada em vigor do Plano de Ordenamento da Albufeira do Azibo, tem feito escola um enganado e enganador discurso, construído à base de slogans consistentes como bolas de sabão, responsabilizando as restrições construtivas desse plano e as entidades que o tutelam pelo teimoso subdesenvolvimento turístico do Concelho. Este caminho, claro está para quem quer ver, apenas serve para justificar a inacção e desviar o problema, esperando de novos planos o milagre que o primeiro impediu. Claro está, mais uma vez, que não serão os planos para a área de paisagem protegida da albufeira do Azibo a admitir a localização e a promover a estruturação que fixe os hotéis e resorts que interessam e faltam ao desenvolvimento turístico do Concelho.
O Azibo e outros lugares e sítios do concelho, a herança patrimonial e cultural ainda não destruída ou esquecida, o nosso melhor modo de ser e de saber fazer, são as partes do todo inseparável que deverá constituir a nossa imagem e marca turística. Marca que à cidade compete e interessa potenciar e referenciar. O valor máximo, o interesse e o poder de atracção do Azibo está naquilo que já é: um tranquilizador recurso hídrico, uma fantástica área de paisagem protegida, uma poderosa reserva de biodiversidade. Este valor é incompatível com a invasão por edificação. Assim, ou há paisagem protegida, defesa e valorização dos recursos hídricos e do património natural da Albufeira do Azibo, ou há, nessa paisagem, hotéis, resorts e eco-coisas parecidas. As duas realidades, no mesmo local, são impossíveis.
Potenciar o aproveitamento turístico do Azibo pelo Concelho não depende dos planos para a sua área de paisagem protegida. O desejado aproveitamento turístico do Azibo depende da capacidade atractiva da cidade. Apesar de velho e já inoperante, nenhuma das propostas estruturantes e fundamentais do Plano de Urbanização da cidade, em vigor desde 1998, foram realizadas. Elaborado segundo um modelo de planeamento linear, já rejeitado pelo novo urbanismo, baseado em expectativas estáticas pré-definidas, a ausência de realização de qualquer da suas propostas estruturantes do tecido urbano, a que se juntou uma gestão corrente rotineira e dogmática de sentido contrário ao do futuro, têm retirado à cidade capacidade de afirmação e atracção. A cidade tarda a adaptar-se à diversidade das necessidades e a libertar-se de zonamentos restritivos em favor de espaços urbanos multifuncionais e estruturados.
Aos planos para o Azibo, compete promover, defender e conservar os seus valores, reforçando dessa forma o seu poder de atracção, atraindo os visitantes que já atrai e ainda mais; à cidade, através dos seus planos, compete e interessa receber e acolher os visitantes que ainda não recebe nem acolhe. À cidade e ao Concelho não interessa que o Azibo se constitua como um destino turístico autónomo. Assim, a meu ver, o problema que temos para resolver não está nos planos que temos ou deveremos ter para o Azibo, está nos planos que temos ou deveremos ter para a cidade e na convicção e capacidade de os promover e realizar.
Os ideogramas desenhados em baixo procuram traduzir o impacto da localização dos hotéis, que podemos resumir assim: com os hotéis em Macedo a cidade dinamiza-se, integra, aproxima-se e constitui-se como referência inequívoca do Azibo; os hotéis no Azibo ameaçam e desvalorizam a riqueza da área de paisagem protegida, a cidade é marginalizada e perde a relação com o Azibo. Para que o Azibo fique em Macedo, compete a Macedo afirmar-se como a cidade do Azibo.
Na dúvida sobre a conveniente e necessária localização dos hotéis e resorts que faltam ao Concelho, para que o Concelho potencie a atracção turística dos seus valores, não perguntemos a oráculos abstrusos, perguntemos a quem responde certo: perguntemos ao coração da cidade!
Adelino José Rosa Rodrigues