Não há Macedense que não sinta um certo sabor amargo pela cidade fabricada nos últimos trinta anos do século passado. Sem que nada o justificasse, Macedo expandiu a sua área urbana central e identitária na vertical, quando tinha, como poucas, condições para se expandir, bem, na horizontal.
A expansão vertical do centro da cidade foi um mal desnecessário, resultante da falta de projecto e da leviandade de conceitos que hoje nos deixa, decorridos poucos anos, inquietos e apreensivos. Temos hoje um centro urbano parecendo resultar de uma tensa e intensa especulação desregulada quando, mesmo sem regras, nada justificava essa especulação e o resultado dela. Na falta de motivos, induziu-se o modelo, tomando-o por progresso, e assim fabricar uma cidade fantasma. Confundiu-se a bolha de investimento da emigração e o efeito PIAGET com uma dinâmica imparável e uma dimensão que sabíamos não poder ter nem, assim, a desejar.
Estamos pois inquietos e apreensivos porque construímos um património urbano que não nos representa, que não serve a cidade desejada e nos confrontará num futuro já presente com dificuldades e pouca vontade de conservação e manutenção.
Aceitamos no passado, por evidente racionalidade, paredes meeiras, mas sempre conflituamos na gestão de espaços comuns. Pode deste comportamento retirar-se que somos culturalmente pouco solidários? Claro que não. Somos solidários e hospitaleiros mas temos igual gosto pela clareza dos limites e fronteiras. Ou seja: gostamos de portas abertas mas também gostamos de muros. Mesmo sendo do menos reprodutivo do que se possa empreender, investimos muito em muros de vedação. O cultivo da vedação é tal que se manifesta até na obra pública, como podemos observar no novo Quartel dos Bombeiros. Se há equipamento que deve simbolizar o desafogo e a ausência de quaisquer vedações, barreiras, obstáculos e atropelos é um quartel de bombeiros, mas, contrariando esse simbolismo e sem qualquer justificação ou desempenho, lá está um muro de vedação em xisto.
Não é de estranhar que uma cultura que tanto gosta e gasta na afirmação da clareza das fronteiras e limites, lide mal e despreze a propriedade horizontal. É pois esta a razão da inquietação e desconforto que sentimos com a cidade fabricada nas últimas três décadas do século passado. Construímos o essencial do património do centro da cidade substituindo património identitário por mega-condomínios que, no fundo, rejeitamos e assim condenamos a degradação acelerada. Este inusitado modelo de expansão da cidade provocou o envenenamento, já por todos constatado, do Plano de Urbanização, como demonstra o predomínio de tipologias anti-identitárias nas propostas de zonamento e edificação.
A ausência de projecto de cidade, de cidade-concelho, de cidade-região ou metapole paga-se caro. O erro urbanístico é irreversível ou dificilmente reversível. O projecto de cidade e a cidade a construir deve traduzir e promover a edificação de património com as tipologias para o nosso modo e gosto de habitar e gerir. Cidade e património urbano que responda a requisitos de eficiência, racionalidade e ordenamento do uso do solo, com o qual nos identifiquemos e gostemos de afirmar e zelar, sob pena de não conseguirmos construir e sustentar uma cidade com identidade e que perdure.
Adelino José Rosa Rodrigues