A cristalização do perímetro urbano de Santa Combinha, deixa às áreas urbanas de Podence (Podence e Azibeiro) o dever e a capacidade de atrair e acolher a pressão urbanística magnetizada pela Paisagem Protegida da Albufeira do Azibo.
Basta uma passagem no lugar pelo IP4 ou um passeio de regresso de Santa Combinha, para notar que a pressão chegou, com estrondo, mostra-se bravia e vagabunda. Mas o que, por enquanto, parece apenas perigoso pode, em pouco tempo, ser devastador, insustentável e irreversível.
A pressão, que se manifesta errante e divergente, deverá convergir para a defesa e promoção da qualidade da paisagem e demais valores comuns de Podence e do Concelho. Para a convergência requerida torna-se necessário agir, fixando objectivos e rumo. Acção que deverá compreender, de imediato: a utilização do Plano Director Municipal (PDM) como o instrumento ao serviço do ordenamento, que é, e não como instrumento cativo da burocracia pletórica; no curto prazo: promover um Plano de Urbanização que integre as áreas urbanos de Podence.
A aplicação do Plano Director Municipal impedirá o despoletar de intervenções insólitas, altamente corrosivas da qualidade da paisagem, ostentando insustentabilidade e sobreposição do individual ao colectivo. O PDM foi criado para servir, com fidelidade, o ordenamento do território. Não pode trair-se a si mesmo. A sua aplicação exige elevado grau de sentido de ordenamento. O PDM não pode, num dia: servir para obstar a acções de intervenção em espaços investidos de estruturas e infra-estruturas gerais públicas consolidadas, que lhe asseguram enquadramento e sustentabilidade; noutro dia: servir o desordenamento, dando cobertura a acções de intervenção desgarradas que arrastam irracionais extensões de linhas de electricidade e iluminação. Irracionalidade tremenda, que o presente já rejeita e o futuro impedirá.
A multiplicação e progressão de absurdas extensões de linhas de electricidade e iluminação, vai transformando o território do concelho numa insustentável e permanente árvore de natal que, mais cedo do que tarde, um incontornável Plano Geral de Iluminação Municipal será obrigado a desmantelar e conter.
O Plano de Urbanização das áreas urbanas de Podence deverá integrar, num criativo e dinâmico compromisso, todas as forças actuantes no espaço territorial abrangido. Face ao interesse e escala de impacto, o plano a desenhar deverá ser liderado pelo município. É ao município que interessa regular as acções de intervenção, sobretudo, no que especialmente respeita às tipologias de empreendimentos turísticos. Em Podence interessa acolher e desenvolver tipologias de empreendimentos de turismo em espaço rural ou de turismo de natureza, deixando, exclusivamente, para a cidade do concelho os empreendimentos qualificados de turismo convencional.
Podence revela alguma força urbana. Os seus aglomerados são pontuados por estruturas e conjuntos edificados de interesse, expressando com saber as qualidades e subtilezas da nossa arquitectura e urbanismo tradicionais. Saber cuja continuidade, pela redescoberta dos seus valores e princípios de sustentabilidade se faz transportar do passado para a vanguarda do tempo presente.
Podence clama um plano e acções que lhe permitam cumprir o desempenho como a área urbana de maior impacto e relacionamento com a Paisagem Protegida da Albufeira do Azibo, transformando a pressão da sua força atractiva na expressão de desenvolvimento em convergência com os valores de afirmação da nossa identidade colectiva.
Adelino José Rosa Rodrigues