Uma cidade e um território afirmam-se pelas marcas resultantes do seu património material e imaterial diferenciador, construído no seu percurso histórico que, como o de Macedo, é próprio e distinto.
Os que nascemos desse património jamais podemos justificar ou aceitar justificar o não saber fazer inovação em continuidade e coerência com o carácter diferenciador das nossas marcas, porque não herdamos da história assombrosos castelos, imponentes catedrais ou majestosos palácios.
É verdade que não temos monumentos grandes, mas, temos muitos edifícios e conjuntos, sítios e lugares de valor monumental. Saber, grandeza, nobreza e brio não se manifestam apenas através de enormes colunas ou colunatas de mármore ou granito, manifestam-se também nos pequenos pontaletes e pilaretes de xisto ou castanho. Como lugares de sonho e magia não são exclusivo dos grandes palácios, também numa qualquer recatada mansarda há magia e se pode sonhar.
Não podemos aceitar, seja qual for a conveniência do momento e por mais oportuno que seja quando se quer fazer sem saber e saber sem conhecer, a destruição de sinais de identidade e a realização do aberrante, crendo que somos como uma qualquer e indistinta periferia suburbana ou uma tábua rasa sem contexto cultural e referências diferenciadoras. Mas, porque temos história e memória, há contexto, há muitas pistas e sinais de marca e de identidade.
Rasguemos, pois, de vez, e para sempre, o espesso manto do provinciano preconceito, instituído pela força da ignorância maquilhada de saber e do gratuito e frívolo mascarado de novo e original, e veremos que temos marcas com que se pode continuar o caminho. Substituamos a presunção e o preconceito sobre o que temos pelo seu conhecimento para que o nosso bom, novo e original encontre razão de ser nas nossas marcas e lugares.
Dos edifícios mais notáveis da nossa, já escassa, paisagem urbana de referência, muitos integram na sua composição espantosas mansardas reveladoras de elevada artísticidade de composição e execução, configurando inteligentes soluções de optimização de espaços, luz e eficiência de recursos. Ou seja, valores e referências cada vez mais actuais.
As mansardas de Macedo são exemplo de manifestações de forte intencionalidade urbanística, técnica, estética e funcional. Apesar disso pouco reconhecidas, pouco valorizadas e até mesmo combatidas. Referências com tal potencial diferenciador, quando ao serviço do seu verdadeiro significado estético e funcional, não podem ser temerariamente destruídas e ignoradas, nem objecto de usurpações achincalhantes na forma e especulativas no uso. É tempo de acabar com o repugnante engano de que não dispomos de potencial diferenciador.
Adelino José Rosa Rodrigues